quinta-feira, 16 de abril de 2009

Um zero


“Um zero. É isto que ele se tornou. Pensava que ser justo e sincero era algo bom. Mas, depois de anos, descobriu que afinal não.
Ir à luta. Bater, levar e se levantar afinal não mostra nada. O que serve é baixar a cabeça e dizer a todos que sim. Pensou bem e é assim que vai ser. Se todos os outros acham que ele é doido, talvez é porque é. Para quê tanta preocupação? Tanta vontade e garra? Pa no fim todos acharem que é “nariz impinado”, orgulhoso e muito autoritário.

Nojo. Sentiu nojo de ser-se. De existir. Pela primeira vez nos seus 40 anos quis não ser. Quis nunca ter existido. Que nenhum registo da sua existência fizesse parte do Mundo. Tanta coisa, tantos parabéns, pancadas nas costas para no final... ser tudo treta. Não quis acreditar que só podia ser isto a realidade. Agora viu que sim... nada mais há que isto... O mundo nada quer ter a ver com ele e ele compreendeu. Chega de bater, levar e se levantar. Chega de acreditar. Se ninguém o faz...porquê ele o há-de?

Podre. Ele viu que era podre. Um rato de esgoto, sujo e sem graça. Os outros todos são mais que ele. Porquê que alguém se preocupou em vesti-lo, dar-lhe um nome, ensinar-lhe a ler para no final ser uma farsa. Compreendeu que ele só existe na cabeça dele. Que a forma como o seu mundo é, é só dele. Nada mais tem interesse. O que ele acreditava era mentira. Peças de plástico que pensava serem de ouro.

Cansado parou. Deixou o corpo adormecer e ficou assim... sozinho. Como se de um bicho parasita e raivoso se tratasse. Talvez era isso que era...um zero.”


SN

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